Algodão Doce

"Senhoras e Senhores!
Ouçam, ouçam, a música invade o salão prateado novamente!"
E como uma fumaça intoxicante ela se espalha, envolvendo qualquer um que esteja no seu caminho, sem parar, sem se cansar. Chama baixinho no ouvido das pessoas, lá se instalando. Convida crianças, dançarinas, guardas, mendigos, padres, chefes de cozinha, damas e todo o tipo de pessoa que tenha um pouco de tempo para ouvir.
E o convite parece simplesmente irresistível.
Aos poucos uma fila se forma, bailando em direção ao Castelo de Prata.
Estivera tão vazio ultimamente, as luzes quase nunca ficavam ligadas, as janelas não tinham mais o mesmo movimento. E a música... A música era o que mais fazia falta, deixava o Castelo inútil, oco, nem parecia mais reluzir como antes.
Antes sim, ele era animado, e mesmo que todos estivessem dormindo, mesmo que as notas não flutuassem, era possível ouvir o vento soprando, sibilando o Minueto da noite anterior.
O compasso 3 por 4 decorava o palacete novamente, guiando os passos dançantes dos convidados até o saguão de entrada. Eles vinham todos de olhos fechados, tentando aproveitar ao máximo a combinação das notas. O som parecia algodão doce, se esparramava numa cascata que era soprada para fora da flauta.
Ao passo que a última nota soava, os hóspedes abriam os olhos, espiando a flautista de costas. Os cabelos escuros eram curtos, e o vestido vermelho lhe caía bem. Observaram-na guardar delicadamente seu instrumento dentro de uma caixa e puxou com a mão direita uma batuta comprida, de madeira leve.
Virou-se para o público daquela noite. Alguns já fizeram pares para bailar, outros sentavam acomodados nas cadeiras. Todos fixavam o olhar na menina, ela trazia um leve sorriso com o canto dos lábios.
"Senhoras e Senhores, tenho a honra de dizer-lhes que nesta noite a música voltará a preencher o vazio deste castelo. Esta noite as cordas serão tocadas até que os dedos se desgastem, os saxofones, as clarinetas, os oboés, trompetes e trombones serão soprados até que não reste mais fôlego. Esta noite os senhores rodopiarão neste salão até ficarem tontos. Que comece a música!"
Todos aplaudiram empolgados, ansiosos pela noite prometida. "E que ela nunca mais me deixe novamente" completou seus pensamentos.
Aquela noite seria eterna.