Mas tudo o que consegui foi dar um abraço débil e um beijo encharcado de sal e baba de olho.
sexta-feira, 27 de julho de 2012
Baba de Olho
Queria ter te sufocado num abraço de ódio, queria ter te apertado
com raiva. Queria ter arrancado o seu lábio com uma mordida antes de te deixar
partir.
Mas tudo o que consegui foi dar um abraço débil e um beijo encharcado de sal e baba de olho.
Mas tudo o que consegui foi dar um abraço débil e um beijo encharcado de sal e baba de olho.
Sinfonia:
o Outro Lado,
Ressaca
quinta-feira, 5 de julho de 2012
Brincando de Fantasia
Lembro-me de abandonar o Castelo do Minueto, querendo parar
de brincar de fantasia, querendo me vestir de essência.
As deixei na estante, as máscaras. Intactas, tentadoras: pedindo um último toque. Aproximei-me... E se eu as encaixasse na face, uma última vez? Só por um instante... Não, não poderia. Virei as costas e parti.
Parti sentindo que no rosto me faltava uma peça. No rosto me faltava uma pele mais espessa. No rosto me faltava o brilho, me faltava a cor. Deixei faltar.
Quando quase esquecia, toquei um chapéu. Chapéu com cheiro de sabão de coco. Sorri. Parecia-me incrivelmente familiar. O vesti e só então percebi que era como me vestir de fantasia mais uma vez.
Fui uma moleca sapeca, fui o soldado imponente, fui a Dona Rosa, fui o tio da padoca, fui o palhaço, fui a Julieta do Romeu, fui popstar, fui garota de estilo, fui prostituta de luxo, fui mendigo, fui frentista... fui o que podia e podia o que fui. De um chapéu partia para outro, de rainha partia para bobo da corte.
Difícil foi tirar o último chapéu e me vestir de essência de novo. Tive que virar as costas. De relance vi uma kombi partindo. Abracei minha companheira de fantasia e sem perceber saltitava com um chapéu debaixo do braço.
As deixei na estante, as máscaras. Intactas, tentadoras: pedindo um último toque. Aproximei-me... E se eu as encaixasse na face, uma última vez? Só por um instante... Não, não poderia. Virei as costas e parti.
Parti sentindo que no rosto me faltava uma peça. No rosto me faltava uma pele mais espessa. No rosto me faltava o brilho, me faltava a cor. Deixei faltar.
Quando quase esquecia, toquei um chapéu. Chapéu com cheiro de sabão de coco. Sorri. Parecia-me incrivelmente familiar. O vesti e só então percebi que era como me vestir de fantasia mais uma vez.
Fui uma moleca sapeca, fui o soldado imponente, fui a Dona Rosa, fui o tio da padoca, fui o palhaço, fui a Julieta do Romeu, fui popstar, fui garota de estilo, fui prostituta de luxo, fui mendigo, fui frentista... fui o que podia e podia o que fui. De um chapéu partia para outro, de rainha partia para bobo da corte.
Difícil foi tirar o último chapéu e me vestir de essência de novo. Tive que virar as costas. De relance vi uma kombi partindo. Abracei minha companheira de fantasia e sem perceber saltitava com um chapéu debaixo do braço.
Sinfonia:
Calmaria,
da Essência
terça-feira, 3 de julho de 2012
A dois
- Uma mesa para dois.
Ela caminha adiante e ele observa os quadris valsando de um lado para o outro. Aproxima-se e - enquanto todos vigiam todos para que todos não façam as coisas que todos gostariam de fazer - enche a mão com bunda recebe de volta um olhar de reprovação divertido.
Poderia ser o quarto encontro ou o décimo, trigésimo ou o último de todos. Não acho que seria diferente. Sentariam um ao lado do outro e conversariam como velhos amigos, se atentariam aos movimentos um do outro como dois desconhecidos, riram, trocariam olhares e sim, também ficariam em silêncio. Mas o mais importante de tudo, estariam por querer estar. Seriam por querer ser. Ficariam por querer ficar. Permaneceriam por querer permanecer. Continuariam por querer continuar.
Se fosse para ser uma lembrança, seria como a lembrança do primeiro algodão-doce que se tem em memória: parece que vem do nada, cresce a partir de pequenas plumas que não seriam nada sem um contexto e só pára se o moço do algodão-doce assim decidir.E, por fim, tem gosto de vontade e textura de pensamento que fica grudado.
Ela caminha adiante e ele observa os quadris valsando de um lado para o outro. Aproxima-se e - enquanto todos vigiam todos para que todos não façam as coisas que todos gostariam de fazer - enche a mão com bunda recebe de volta um olhar de reprovação divertido.
Poderia ser o quarto encontro ou o décimo, trigésimo ou o último de todos. Não acho que seria diferente. Sentariam um ao lado do outro e conversariam como velhos amigos, se atentariam aos movimentos um do outro como dois desconhecidos, riram, trocariam olhares e sim, também ficariam em silêncio. Mas o mais importante de tudo, estariam por querer estar. Seriam por querer ser. Ficariam por querer ficar. Permaneceriam por querer permanecer. Continuariam por querer continuar.
Se fosse para ser uma lembrança, seria como a lembrança do primeiro algodão-doce que se tem em memória: parece que vem do nada, cresce a partir de pequenas plumas que não seriam nada sem um contexto e só pára se o moço do algodão-doce assim decidir.E, por fim, tem gosto de vontade e textura de pensamento que fica grudado.
Sinfonia:
Calmaria,
o Outro Lado
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