quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Carta ao Cronista

SBC, 26 de Agosto de 2010
Artur da Távola,

Li a crônica "Olho de menino triste" que resgatou da minha memória a infância de, se me permite usar o termo, menino de olho triste. Tentarei nessas poucas linhas rabiscar o que sobrou da lembrança...
Eu era solitário, preferia fazer os trabalhos de escola comigo mesmo. As minhas opiniões, meus desejos, ficavam trancados no pensamento. Os parquinhos não me atraíam, assistia de longe as outras crianças e isso nunca me incomodou.
Na sala de aula, na rua, era como se eu não existisse, uma sombra andarilha. Às vezes esperava que a professora ao menos olhasse para mim, lembro de tentar chamá-la com os olhos, mas acho que ela me evitava. Nas reuniões de pais e mestres simplesmente dizia que eu era "um menino bonzinho", tirava boas notas.
Minha mãe pouco eu via, mas uma vez ela deixou-se preocupar comigo e foi ter com a diretoria. Nem meu nome sabiam, chamaram então a professora e ela disse ser darwinista: o que melhor se adapta, sobrevive. Pois bem, me adaptei, ainda que poucas palavras saiam da minha boca. Elas preferem sair da caneta. Deixo que a tinta mostre meus sentimentos e que meus personagens falem por mim.
Agradeço por ter me lembrado de quem eu fui, e talvez de quem eu ainda seja,

Menino dos Olhos Tristes

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