domingo, 11 de dezembro de 2011

Viver Passarinho

De onde veio? Pouco importa. Ela veio.
Com tanta mania de ave, deve ter nascido do assobio, do vento. Carregada pelo sopro. Pouco importa, ela veio. E veio num ninho.
Logo aprendeu a falar passarinho, a correr passarinho, a acordar passarinho, a viver passarinho,... só não aprendeu a voar passarinho.
Cresceu além do esperado. Difícil foi perceber que não era passarinho. As aves mais aventuradas, as pombas, lhe falavam da cidade, lhe falavam da gente. Convidaram-na então para passar uns tempos em sua morada.
Não foi fácil viver de migalha de pão, mas finalmente conheceu passarinhos como ela: sem pena, sem asas.
Do telhado observou passarinho: sem piscar. Todos falavam gente, andavam gente e viviam gente.
Maria-de-Barro então tentou ser gente sem deixar de ser passarinho. Fez uma casa na árvore, comeu arroz com minhocas e começou a falar um misto de palavras e assobios.
Percebeu que para ser gente, precisava de uma ocupação, nem que fosse uma ocupação de desocupado.
Se meteu a ser doutora. Não, doutora de gente não prestava. Se meteu a ser doutora de passarinho.
Fez de um papel um diploma. Convocou uma reunião de aves e foi nomeada Dra. Maria-de-Barro, Doutora de Passarinho.

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