De onde veio? Pouco importa. Ela veio.
Com tanta mania de ave, deve ter nascido do assobio, do vento. Carregada pelo sopro. Pouco importa, ela veio. E veio num ninho.
Logo aprendeu a falar passarinho, a correr passarinho, a acordar passarinho, a viver passarinho,... só não aprendeu a voar passarinho.
Cresceu além do esperado. Difícil foi perceber que não era passarinho. As aves mais aventuradas, as pombas, lhe falavam da cidade, lhe falavam da gente. Convidaram-na então para passar uns tempos em sua morada.
Não foi fácil viver de migalha de pão, mas finalmente conheceu passarinhos como ela: sem pena, sem asas.
Do telhado observou passarinho: sem piscar. Todos falavam gente, andavam gente e viviam gente.
Maria-de-Barro então tentou ser gente sem deixar de ser passarinho. Fez uma casa na árvore, comeu arroz com minhocas e começou a falar um misto de palavras e assobios.
Percebeu que para ser gente, precisava de uma ocupação, nem que fosse uma ocupação de desocupado.
Se meteu a ser doutora. Não, doutora de gente não prestava. Se meteu a ser doutora de passarinho.
Fez de um papel um diploma. Convocou uma reunião de aves e foi nomeada Dra. Maria-de-Barro, Doutora de Passarinho.
domingo, 11 de dezembro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário