quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Enterro

Sabe, esqueçam-me, esqueçam-me todos vocês. Vocês que me trancaram e saíram pelo buraco da fechadura. Deixaram que a memória apagasse os nossos risos. Tantos risos. Agora diluídos ao vento. Nada mais são que ecos na minha cabeça.
Mas vejo que para vocês nem mais ecos são, nem ecos! De verdade, esqueçam-me, se lembrarem de mim. Se. Escrevo para enterrar. Enterrar as lembranças, as histórias, os papéis. Este daqui vai ser enterrado junto, não quero guardar a revolta. Escrevo para que vocês a vejam, mas não verão, eu sei. Vocês não me veem. É só uma esperança boba. Tantas já sumiram que, acreditem, mais uma não fará diferença.
Desculpem-me, desculpem-me por ter cometido o erro de me prender ao passado, achei que poderia ser costurado ao menos ao presente, sonhava que a linha alcançasse o futuro também, queria amarrar tudo junto. Eu errei. Deveria logo ter enterrado tudo, como vocês fizeram, mas carreguei tudo por tantos anos. Agora é tão difícil me desprender desses pensamentos, dessas memórias. Carreguei-as tanto que agora me seguem. Vou enterrá-las.

2 comentários:

Hannah disse...

é.. todo mundo leva essa na cuca, cedo ou tarde. eu tinha te falado isso já alguma vez a uns anos atrás...

Die disse...

Memórias, sem um sentido feliz por trás, não são memórias que valem a pena...