O Príncipe Encantado

Ela.
Caminhava com as mãos geladas dentro do bolso do casaco. O vento soprava gelado e cortante vindo contra sua face. Bochechas coradas e a ponta do nariz vermelho. O frio é bom, ela pensa. Dá um meio-sorriso, sentindo seus lábios ressecados.
Respira fundo e se lembra do assunto que a perturbara o dia todo, a semana toda e o mês todo. Tão arrependida de seus atos, fitou seus próprios pés. Acreditara tanto em si mesma, praticara tanto o bote antes de finalmente dá-lo.
O vento soprou mais uma vez, bagunçando seus cabelos. Não se importou, não tirou a mão do bolso como faria normalmente para ajeitá-los. Deixou que a brisa o fizesse a seus modos.
Voltara para seus pensamentos, o que fez seu coração encolher e arder a cada vez que a garota respirava. Tão bobinha, como se não soubesse o que as tramas do coração são capazes de fazer...
Chegou a achar que ele era sem graça, e eu particularmente não o acho tão especial para uma menina como ela. No começo ele parecia gostar dela, porém ela não dele, mas os dois mudaram, ela ficou tão madura e ele já não tem mais olhos só para ela.
Sabia disso, ela era esperta. Parece que eu gosto de sofrer, disse para si mesma. Tão decepcionada com seu ego, tantos outros meninos caíam nas asas do seu charme, porque ele não? Isso a intrigava, a fazia não querer desistir.
Ao chegar em casa, deixou-se cair na cama. Deixou que a flecha batesse no peito sem medo. O choro subiu pela garganta seca. Não, sou forte, insistiu. Mesmo assim deixou que uma lágrima rolasse para fora dos olhos. Abriu a janela para que o frio a envolvesse novamente, o vento fez com que a lágrima gelasse suas faces até que ela finalmente secasse.
Colocou então uma música para tocar, logo que as primeiras notas tocaram docemente seus ouvidos, sua face tornou-se molhada novamente e em meio de soluços abafados pelo travesseiro, carregada pelo que ela chamava de melodia, adormeceu. Deixou-se carregar por ele, o príncipe encantado dos seus sonhos.