domingo, 17 de fevereiro de 2008

O Castelo Tosco

O encanto. É incrível, tão... sedutor é a palavra. O reflexo é perfeito, acompanha cada traço, cada marca, a sombra. Eu diria que poderia ser até mágico .

Segui o contorno com a ponta do dedo - o esmalte com glitter roxo já estava descascando. Apesar da imagem ser impecavelmente real, tudo era tão mais brilhante!



Foi então que eu pensei ter compreendido: as pessoas não ficam horas na frente dele simplesmente para se olhar, mas sim porque estão enfeitiçadas pela superficíe prateada.



As mulheres então penteam os longos cabelos, os homens se observam com faces de galãs. Tudo se encaixa. Eles estão apenas se preparando para a grande festa no castelo de prata que há lá dentro do espelho,a lua dando brilho ás torres, os detalhes de cristal, as belas bailarinas, os flautistas, os violinistas, gostaria de acreditar que eles tocavam um minueto.



Fiquei imaginando talvez uma festa de máscaras. Elas sempre parecem tão legais. Me aproximei de mim mesma, tentando enxergar através. Tingi meus lábios de vermelho, passei meu dedo neles e observei a cor de sangue. Era uma cor perfeita para a ocasião. Me aproximei mais ainda de mim mesma, de modo que meu nariz quase tocasse no outro. Com a mão trêmula fiz com que o rímel tocasse os meus cílios, chamando-os para a festa também. O rouge corou minhas bochechas e a escova ajeitou meus cabelos - até então bagunçados.



Um calafrio percorreu meu corpo. Então era isso, eu estava preparada. Não sabia dançar um minueto, normalmente eu que o regia, mas tudo bem. Parecia que quando eu chegasse lá saberia o que fazer.



Me posicionei. Talvez eu devesse correr, mas correr é muito rápido. Queria sentir devagar a sensação de atravessá-lo. Estiquei o meu braço, fazendo com que a minha mão quase tocasse o objeto misterioso. Respirei e toquei a camada gelada de prata. Era agora, o momento em que ele de repente se tornaria líqüido, penetrável. Mas depois de um tempo reparei. Estava sólido. O sorriso se apagou. Era óbvio que estava.



Pensei comigo mesma que já era hora de parar de fantasiar. Parar de achar que tudo o que é simples poderia ser alguma coisa a mais. Eu só queria dar um tom de importância em algo tão tosco.

2 comentários:

Hannah disse...

Lindo, ótimo!

As palavras são suaves, mas cortantes. Igual a uma adaga linda, mas mortal. Sabe ao que me refiro, não?

=*

Die disse...

Talvez as pessoa se olhem e reparem tanto na sua imagem no espelho não porque ele reflete as suas imagens com fidelidade, mas as distorce de acordo com o gosto do observador...

Palavras belas pra sentimentos simples mas importantes... Algumas vezes na vida, as menores coisas são as mais importantes, mesmo nós pensando que elas nada significam...