O mar parecia não ter mais fim. Turbilhões e rodopios obedeciam os caprichos do oceano. A morte trabalharia junto, responsável pelo desespero, pelo queimar dos pulmões, que guardavam o último resquício de oxigênio como se fosse o mais valioso tesouro, na esperança de finalmente alcançar a superfície.
As ondas arrastavam o corpo que boiava inerte. Cada músculo oferecia dor, parecia impossível mover um nervo. A minúscula quantidade de ar que conseguia entrar, arrastava o sal ardente consigo. Tudo pessava, mas mesmo assim a água do mar tão traiçoeira conseguia conduzi-lo até suas faces sentirem pequenos grãos que afundavam conforme o corpo balançava para frente e para trás quando as ondas quebradas encontravam o sol.
A tentativa de abrir os olhos foi um fracasso. Talvez não estivesse preparado para ver. Ouvir sim lhe provocou algum interesse. O barulho do mar, agora tão calmo, era profundo: lembrava o estômago vazio de uma fera roncando. Gaivotas gritavam, acompanhando os uivos do vento.
Os olhos, de um azul quase branco, abriram com relutância, acostumados à escuridão do fundo do mar. Ao encontrar o sol o homem fez um ruído - uma espécie de grunho - e semicerrou os olhos para enxergar melhor
Um comentário:
E deparou-se com a imensidão do azul a refratar dentro dos seus olhos. Não conseguia-se mais distinguir o azul do céu com o tom dos mares a rebater sobre a sua face.
Deitado entre a linha tênue de dois horizontes, ficou mais um instante pensando em tudo o que fizera, enquanto observava o mar e o céu se confundindo dentro dos seus olhos...
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