Meu Minueto

Eu, sentada na sala, olhando pela janela em busca de alguma inspiração. Busco encontrá-la nas pessoas que andam na rua, no movimento que elas fazem, no jeito de cada uma delas. O lápis na mão e o papel vazio. Passa meia hora, passam duas e o lápis continua na mesma posição. O olho quase não pisca, vidrado nos acontecimentos do lado de fora.

Subitamente começo a enteder e tudo parece ter sentido. A música toca meus ouvidos, convidando-os para dançar, então todos vão chegando num salão, vestidos a rigor. A moça ruiva sorri, tão encantada quanto eu. Tudo elegante e refinado.

O rapaz convidava ajoelhado, a dama de vestido bufante para dançar o compasso 3/4. A dondoca rechonchuda ria timidamente para seu parceiro, que apenas retribuía um olhar sedutor. Eram tantos acontecimentos ao mesmo tempo que meus olhos quase não conseguiam acompanhar. Peças de todas as cores, damas com vestidos dourados, cavalheiros com vestes negras, outras com mantos da cor do céu, cavalheiros com capas vermelhas, senhoras com sapatilhas de cristal, cavalheiros com sapatos de couro de dragão. Dançavam sem parar o mesmo rítmo, as mulheres muito delicadas acompanhavam os passos dos galãs firmes.

Acelerei as notas e eles aceleraram os passos. Eu escrevia tudo furiosamente no meu caderno e eles dançavam furiosamente no salão. Mulheres rodando, sapatos girando, risos, vestidos, cartolas, copos a tilintar, violinos, flautas, trompetes, clarinetas, tudo seguindo os caprichos do meu minueto.